Tom Jobim era politicamente incorreto

 


“Neste país, o sim gera o não. As coisas boas são vilipendiadas. Isso aqui está virando um covil. É a degradação de tudo. Não podia ser diferente. Foram muitos anos de mentira. Essa mentirada toda da democracia de esquerda… E como podemos ser capitalistas, se odiamos o dinheiro?”


“Eu não consigo entender como o Brasil funciona. Mas o que se vê hoje é a desmoralização total. Pagamos todos os impostos e, em troca, ganhamos a insegurança e a morte. O dinheiro dos impostos paulistas vai para onde? Para Brasília sustentar aqueles parasitas? Imagine um país onde o psiquiatra é louco, o delegado é o chefe da quadrilha e o advogado ladrão, e os homens de bem são perseguidos?”


“Você tem de controlar a situação que está aí. Em caso de perigo, ou mato ou morro. Nós temos uma coisa muito hipócrita. Queremos que tudo seja bom, sem o Exército na rua, sem subir o morro. Nos Estados Unidos, quando a coisa piora, aparece a polícia e, se ela não der conta, aparece o Exército, com tanques e canhões. Mas dizer que é a favor do Exército nas ruas é antipático. Temos essa hipocrisia”.


“Hoje todo mundo anda armado, todo mundo atira em todo mundo. Isso é obra do homem. Como se pode viver em uma cidade onde as balas estão crivando as paredes das casas e matando crianças no colégio? Está se matando no Rio, sem ao menos saber a quem se mata. Os assassinos estão matando quem não conhecem. Podiam, ao menos, treinar melhor a pontaria”.


“Não posso generalizar, mas sinto que há certa animosidade contra mim. As colunas sociais, que chamo de anti-sociais, não falam mal de bandido, porque bandido mata. Preferem atacar os homens de bem”.
“Eu não sou muito de andar. Já fiz passeata e essas coisas. Lá em casa todo mundo era socialista, meu avô, meu padrasto, minha mãe. Lá em casa aquelas estantes de livros é tudo Engels, Marx e Lenin, né? Eu fui crescendo, eu fui ler aquele negócio, fui tentar entender aquilo. Essa geração minha, era toda uma geração de esquerda. Essa coisa do Brasil, ‘ordem e progresso’ misturado com o positivismo de Augusto Comte, e a crença que o comunismo e o socialismo seria a melhor solução para o Terceiro Mundo. Parece que a coisa não deu certo, não”.


”O Brasil não é para principiantes”.
“Fico perplexo vendo tudo isso. O Rio, por exemplo, essa dádiva de Deus, poderia ser uma cidade riquíssima, explorando seu turismo. E, no entanto, aqui se matam turistas para roubar as câmeras fotográficas. Eu teria pavor de ser presidente do Brasil, de assumir esse sistema de erros, esse negócio ingovernável. Deve ser terrível”.


“Este é um país em que as prostitutas gozam, os traficantes cheiram e em que um carro usado vale mais que um carro novo. É ou não é um país de cabeça para baixo?”
"Sou um embaixador nato. Meu pai era do Itamaraty e fui parceiro durante 20 anos de um diplomata. Não vou para o exterior mandar as pessoas virem para cá para serem assassinadas em Ipanema. Eu vou dizer o que a um turista? ‘Vamos subir a Rocinha, o Dona Marta?’ De maneira nenhuma".


“Aquela teoria do quanto pior melhor, deu nisso. Deu nisso que deu no Rio de Janeiro. Você não pode andar na rua, não pode andar de carro, não pode sair à noite. Você tem que ficar pagando imposto. De um lado, é o governo que quer o dinheiro, o executivo que quer dinheiro, a companhia que quer o dinheiro. E as pessoas? Pra onde é que vão? O que é que elas vão fazer?”


“Eu, por exemplo, não iria falar mal do Brasil porque eu não creio que isso venda disco. Se eu falasse mal do Brasil, o estrangeiro ficaria embaraçado, ficaria perplexo”.


“Muitas vezes existe uma tendência de apresentar o artista como um ser venal. E parece que ninguém lê quando se dão boas notícias das pessoas. O que vende jornal e revista são as ‘bad news’. Isso é assim aqui e em qualquer lugar do mundo”.


“[Perguntado sobre por que sempre voltava para o Brasil] Volto para me aporrinhar. Para responder este tipo de pergunta. Para ser um dos 5% de brasileiros que pagam imposto de renda. Para perder o apetite ou morrer de indigestão. Volto porque nunca saí daqui”.
Para ele, uma parte da imprensa insistia "em botar o brasileiro contra o Brasil".


UOL (Congresso em foco): O Brasil na visão de Tom

https://congressoemfoco.uol.com.br/amp/reportagem/o-brasil-na-visao-de-tom/